Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social
UFSCar

Linhas de pesquisa

ESTUDOS AMERÍNDIOS

A linha de ESTUDOS AMERÍNDIOS agrega a este Programa uma área clássica da Antropologia brasileira, a Etnologia Indígena, com um diferencial – a saber, seu forte interesse nas dinâmicas de interação entre povos indígenas e agências “exteriores”, como estado, escola, sistemas de atendimento à saúde, programas de políticas culturais, programas sociais e de geração de renda, seres não humanos, entre outros, sem perder de vista, naturalmente, a conexão dessas dinâmicas com as questões clássicas da disciplina, como parentesco e organização social, filosofias e modos de conhecimento, ritual e política, relações entre natureza e cultura. Tal orientação confere um selo específico à linha de estudos ameríndios do PPGAS/UFSCar, e que a destaca das linhas desenvolvidas na maior parte dos Programas de Pós-Graduação em Antropologia existentes no Brasil, expressando o perfil do nosso quadro docente nessa especialidade. Congrega-se, por meio dela, pesquisas que descrevem e analisam as relações, os trânsitos e as traduções entre regimes de conhecimento, bem como as políticas indígenas na sua relação com as políticas públicas, culturais, ambientais e de desenvolvimento dirigidas aos povos indígenas ou que os afetem. Essa comunicação de saberes se dá na escola, especialmente nos contextos de educação escolar indígena diferenciada; no atendimento à saúde; nos processos de patrimonialização; e nos que envolvem territorialidade, desenvolvimento, meio ambiente/natureza e relações diversas com uma variedade de seres humanos e não humanos. A partir de 2016, docentes e estudantes vinculados à essa linha de pesquisa dedicaram-se a rever o seu leque temático, por meio da fundação de um grupo de pesquisa – o LETS-Laboratório de Etnologias Transespecíficas – que congrega todas as investigações em curso no PPGAS/UFSCar na área de etnologia indígena e temas afins. Esse debate interno levou a uma ampliação de nossos objetos de investigação, bem como a uma revisão em sua formulação conceitual. No processo, buscou-se incorporar a agenda contemporânea da antropologia, que vem questionando e revisando as costumeiras divisões étnicopolíticas (indígenas, quilombolas, populações tradicionais) e a separação entre cultura (humanos) e natureza (não humanos, incluindo animais, plantas, objetos, máquinas, tecnologias, paisagens, espíritos, deuses, o estado e outros) presentes nas análises teóricas mais convencionais. Na tentativa de questionar, rediscutir e superar estas oposições e classificações estanques e aparentemente pouco vinculadas às distintas e complexas realidades sociais do país, passou-se a enfatizar, como horizonte geral desta linha de pesquisa, as conexões analíticas e políticas entre povos indígenas, comunidades quilombolas, populações tradicionais, e o que chamamos, por economia, de meio ambiente (que é integrado por a pletora dos seres ditos outros-que-humanos). Vale dizer, também, que a linha vem estimulando a realização de pesquisas antropológicas sobre populações rurais, comunidades tradicionais e meio ambiente na região de São Carlos e, de modo mais amplo, no interior do estado de São Paulo (por meio, sobretudo, de duas linhas de pesquisa no interior da estrutura do LETS: “Populações Indígenas, Quilombolas e Tradicionais no Estado de São Paulo” e “História, cultura e natureza na Serra Geral paulista”), como forma de consolidar a atuação do PPGAS e da UFSCar na região em que estão instalados e devem se fazer presentes.

Docentes participantes:

Laboratórios e Grupos de Pesquisa Associados:

LETS – Laboratório de Etnologias Trasespecíficas

HUMANIMALIA – Estudos sobre Relações Humano-Animais


ANTROPOLOGIA URBANA

A linha de ANTROPOLOGIA URBANA consiste numa atividade investigativa que não deixa de remontar às primeiras experiências etnográficas no interior da disciplina, já anteriores ao século XX, notadamente as centradas nas metrópoles como marco de processos de urbanização e mudança social. Hoje, busca um diálogo mais amplo com outras subáreas, abarcando significativo leque teórico, metodológico e temático de investigações. O fenômeno urbano é problematizado pelas pesquisas reunidas nesta linha a partir do recorte empírico denominado de cidade, mas que não é necessariamente o único. A cidade é tomada não somente como palco de transformações sociais, mas mapa simbólico e condição de possibilidade de fenômenos variados. Não obstante o fenômeno urbano em si, há expressiva multiplicidade de fluxos entre comunidades, cidades, nações, Estados, loci de grupos e demandas sociais específicas. Por essa via, podemos notar grupos indígenas, comunidades rurais e quilombolas, imigrantes, grupos étnicos distintos que cada vez mais reivindicam seu lugar nos complexos urbanos a partir de um conjunto de práticas políticas. Incluem-se ainda nesse rol de investigações outros fenômenos, tais como os movimentos migratórios, deslocamentos e circulações de capital, bens, pessoas e ideologias, perfazendo a construção de territorialidades, fronteiras e espaços. O diálogo com as outras duas linhas de pesquisa do Programa é, desta forma, pressuposto e tem acontecido com bastante frequência, tanto do ponto de vista empírico (presença de Estado, conflito, cooperação nas cidades, povos indígenas em contextos urbanos, migrantes rurais) quanto teórico, dada a importância da etnologia ameríndia, por exemplo, para o campo mais amplo da Antropologia. Destacam-se, ainda, na linha de pesquisa em Antropologia Urbana, investigações que envolvem questões relativas à família e parentesco, ao conjunto mais ampliado da socialidade verificada nas várias frações sociais que imprimem ritmos às experiências nos bairros e nas regiões centrais ou periféricas, cujas práticas disputam poderes simbólicos, trazendo a dinâmica de uma sociabilidade de base constitutiva da experiência urbana. Desse modo, grupos de interesses variados, demandas de jovens por estilos e comportamentos musicais e esportivizados, mas também a produção em escala de megaeventos, tão próprios da dinâmica do consumo nas sociedades de massa como esportes, práticas devocionais, enfim, formam a fecunda produção estilizada de modos de vida que delimitam um horizonte de práticas sociais de interesse direto da antropologia urbana, somados aos processos sociais de fabricação da pessoa moderna, da memória, passando ainda por temas como corporalidade, saúde e religiosidade. Nesta linha se inserem ainda pesquisas específicas sobre a obra de Claude Lévi-Strauss, sua noção de “sociedades a casas”, a formação das cidades (tema inicialmente desenvolvido em Tristes trópicos), a circulação de signos, objetos e pessoas, a religião, a arquitetura e a arte em sociedades complexas.

Docentes participantes:

  • Igor Renó Machado
  • Luiz Henrique de Toledo
  • Marcos Lanna

Laboratórios e Grupos de Pesquisa Associados:

LEM – Laboratório de Estudos Migratórios


ANTROPOLOGIA POLÍTICA

A linha ANTROPOLOGIA POLÍTICA, em um sentido amplo, trata da reflexão sobre a arregimentação e mobilização de elementos dispersos e heterogêneos – forças, práticas discursivas, matérias, símbolos, conceitos, tecnologias, documentos, seres vivos, entre outros – que culminam em variadas formações concebidas e vividas como políticas: a democracia representativa, a economia, o estado, a cooperação internacional, guerras e conflitos, mercados financeiros, por exemplo. Trata-se de descrever analiticamente, em nível experimental e etnográfico, os modos como se pensam e realizam estas formações, mas também, e particularmente, modalidades de problemas levantados em meio a estas experimentações com especial ênfase na descrição de relações que se colocam para o pensamento nativo como envolvendo algum nível de poder, hierarquia ou violência, bem como na descrição de teorias nativas que se configuram como teorias políticas, ou da política. Uma quantidade importante, sobretudo por conta de sua diversidade de temas e objetos, vem sendo, deste modo, desenvolvida no âmbito desta linha no PPGAS/UFSCar, versando sobre formações familiares, apropriações da burocracia, trocas internacionais, organizações guerreiras, associações indígenas, coletivos criminais, mercados variados, discursos jurídicos, e ecologias divergentes. Ainda que muito diversas, elas trazem a si, acopladas, reflexões teórico-metodológicas que emergem do duplo encontro com os interlocutores em campo e com a literatura que cada objeto de estudo impõe. Destas conexões, problemas comuns apareceram, abrindo franca possibilidade de diálogo entre as diversas pesquisas. Trata-se, por exemplo, de refletir sobre como etnografar eleições sem tomar por suposto um ideal de representação democrática; de pensar os órgãos governamentais sem partir do Estado-uno delineado pela filosofia política; ou, ainda, de como etnografar relações de cooperação internacional sem pautar a análise pela ideia de um sistema mundial. Democracia, nação, ordem pública, governança global tornam-se, no lugar de atalhos explicativos, os alvos mesmos da 11 descrição etnográfica. O esforço analítico vai além da apreensão da perspectiva nativa, e inclui a comparação entre teorias e problematizações nativas (de origens das mais diversas) e teorias acadêmicas. Estas últimas não mais embasam ou contextualizam as formações políticas etnografadas, mas possibilitam operar contrastes que revelam, a um só tempo, as versões nativas e as versões autorizadas, legitimadas, instituídas sobre o pensamento e a realização do político.

Docentes participantes:

  • Andressa Lewandowski
  • Catarina Morawska Vianna
  • Iracema Dulley
  • Jorge Mattar Villela